Estou nesta atividade há mais de vinte anos,
formado como Diretor, Examinador e Instrutor, em todas as modalidades
e categorias do Ensino de Condução.
Assisto com crescente preocupação que há
em algumas escolas de condução indicíos de
ilicitude, low-cost na formação rodoviária,
instrutores detidos, cartas de condução recolhidas e
escolas de condução a encerrar depois de cativar alunos
com preços enganosos, com sérios e graves problemas a
quem a “quente” lá se inscreveu!
Com a alteração à lei, as escolas
de condução surgem como “cogumelos” com instrutores
impreparados e estagiários “saídos” de cursos em
teste multimédia e que incompreensivelmente a tutela até
lhes abuliu o exame oral e para agravar todas as consequências
vê-se por aí publicidade agressiva, enganosa, como se
alguém acreditasse que “tira” a carta de condução
num processo legal e transparente por 200 ou 350 Euros, onde 23% será
IVA.
Participei no passado mês de Fevereiro no grande
Seminário de reflexão e debate sobre a grave crise
moral que atravessa este setor, onde particou, também, o
Secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e
Comunicações, Dr. Sérgio Silva Monteiro, que
tutela o IMTT; dos Senhores Deputados da Assembleia da República,
Engª Carina Oliveira, Deputada do Grupo Parlamentar do PSD e Dr.
João Viegas, Deputado do Grupo Parlamentar do CDS; do
Presidente do Conselho Diretivo do IMTT, Engº Carlos Correia,
para além de muitas outras personalidades. Não deixa de
ser relevante que nesse mesmo Seminário o Dr. Paulo Reis,
Economista, salientasse o valor médio de uma Carta de Condução
de 790.83 Euros, dando o aluno as aulas minímas obrigatórias
e aprovando no primeiro exame.
“Tirar”
a Carta de Condução é das coisas mais
importantes da vida e nunca será igual aqui ou ali. Afinal
estamos a falar de formação rodoviária! A
corrupção há muito está instalada em
vários setores da sociedade e a crise não deveria ser
álibi para a potenciar, mas pelos vistos é!
À partida nunca se poderá saber qual o
custo final da formação e exames para obter a Carta de
Condução. O aluno poderá aprovar no primeiro
exame ou não ou até poderá necessitar de aulas
além do minímo obrigatório. A formação
não é estanque e o custo final só poderá
ser contabilizado no fim.
Assisto com grande estupefação a alunos
que “sem pensar” inscreveram-se em escolas de condução
low-cost, pensando que iriam pagar 300 ou 400 Euros e depois reprovam
4 e 5 vezes e acabam por pagar mais de mil euros. Na vida ninguém
dá nada a ninguém, pensem comigo se a esmola é
grande o pobre desconfia!
É com grande desconforto que tenho assistido a
alunos em pânico que se inscreveram em escolas low-cost e não
lhes dão as aulas minímas obrigatórias e
adequadas para uma condução segura, dizendo os donos
dessas mesmas escolas: “queres aulas com estes preços? Aqui
não é a Santa Casa da Misericórdia!”. Deixo um
alerta à Super-Visão do IMTT e ao Sr. Procurador Geral
da República que investiguem o que se passa em algumas escolas
de condução.
Acordem pais, encarregados de educação,
candidatos a condutores para que antes de se inscreverem em escolas
de condução reflitam bem onde se vão “meter”.
No país há profissionais competentes, mas
como em todas as atividades há pessoas armadas em “chicos
espertos” que só pensavam em sacanear o próximo.
Tenham atenção ao seguinte:
- Na formação de automóveis ligeiros, toda a Escola de Condução é obrigada a ministrar 28 aulas de 50 minutos de código e 32 aulas de 50 minutos de condução como mínimo. Mas para além do mínimo as Escolas de Condução são obrigadas a ministrar as aulas suficientes para uma condução segura. Ouvem-se relatos de candidatos que foram propostos a exame com 6 ou 7 aulas e reprovaram imensas vezes!
- Os alunos poderão escolher onde fazer o exame; Centro de Exames Público ou Privado. Percepciono que existem escolas de condução a impôr um só sitio para a realização do exame.
- Toda a Escola de Condução tem que ter um Diretor ao serviço do ensino. Verifica-se que há escolas de condução onde o Diretor tem outra profissão.
- Na formação prática, 40 a 50% das aulas devem ser ministradas em Auto-Estradas ou vias equiparadas. Não tenho dúvidas que para economizar combustível, muitas escolas de condução não ministram aulas nas mencionadas vias.
Nunca se esqueça que não é a Carta
de Condução que conduz o veículo, mas sim o
condutor com atitudes positivas e comportamentos adequados a cada
situação de trânsito. Deixo um alerta a todos os
pais que muito além de oferecerem uma Carta de Condução
que não passa de um simples “cartão”, ofereçam
uma formação de qualidade onde não correm o
risco de perder o vosso filho num acidente de viação,
que seria uma dor incurável!
Citando John L. Beckley: “A maioria das pessoas não
faz planos para fracassar, mas fracassa se não fizer planos”.
Amilcar Ferreira
Diretor/Instrutor